A origem do pensamento pentecostal a respeito do “batismo com o Espírito Santo”
Agora chegamos a um ponto crucial para o nosso entendimento: Se o batismo no Espírito Santo foi um fato único na história do Cristianismo; se foi um ato de Deus para a Igreja de Cristo como instituição, abrangendo o seu efeito a todas as Igrejas de Cristo em todos os lugares e em todos os tempos; se o que vemos e ouvimos agora a respeito do assunto não tem qualquer base bíblica nem fez parte da história do cristianismo, de onde vem o costume de se procurar com ardor um fenômeno que é chamado de “batismo com o Espírito Santo”?
Há uma origem para tudo isso e não é divina. Olhando para o fundo histórico do movimento pentecostal observamos que é uma origem em comportamentos e pensamentos humanos. O metodismo de John Wesley (1703-91), vigário anglicano que ingressou em uma seita fundada por seu irmão Charles e que ficou conhecida em Oxford, Inglaterra, como “Associação dos Metodistas”, é o ancestral do pentecostalismo que se instalou entre igrejas norte-americanas no final do século XIX e início do século XX. Segundo a visão tradicional do movimento holiness (santidade) e dos primeiros pentecostais (seguindo João Wesley), existia uma experiência instantânea de “inteira santificação” ou “perfeição cristã”, separada da experiência da conversão. Era chamada a “segunda bênção” (salvação + poder), sendo considerada uma preparação necessária para uma terceira experiência, o batismo com o Espírito Santo (a nova experiência pentecostal).
John Wesley cria e ensinava que a remissão dos pecados e o recebimento de um coração novo eram duas realidades distintas em momentos diferentes na vida do cristão. Cria que o coração novo só era recebido em um momento de santificação através de uma experiência instantânea sensível, mas não chamava esta experiência de “batismo no Espírito Santo”. No entanto, o movimento pentecostal absorveu a idéia da experiência instantânea após a justificação e a substituiu da “inteira santificação” para o que passaram a chamar de “batismo no Espírito Santo”, ou de “segunda bênção”.
O primeiro a chamar a experiência ensinada por John Wesley como santificação de “batismo no Espírito Santo” foi Charles Finney (1792-1876), reavivalista norte-americano de grande influência, autor de uma obra de Teologia Sistemática de grande utilização entre os pentecostais norte-americanos, em que ensinava uma experiência subseqüente à conversão que chamava de “batismo no Espírito Santo”.
Finney desenvolveu métodos deliberados e emotivos para levar os homens a uma crise espiritual e os justificava com pensamento seu, pessoal: “Deus tem considerado necessário fazer uso da emotividade que existe na raça humana para produzir excitações poderosas entre as pessoas antes de poder levá-las a obedecer”. Porém nem ele, nem John Wesley fizeram qualquer referência a uma experiência de de fala de “línguas estranhas” (glossolalia) como sendo a marca do batismo no Espírito Santo. Historicamente, este fenômeno iniciou-se em 1900 com Charles Fox Parham, onde em 01/01/1901 uma mulher por nome Agnes N. Ozman, discípula de Parham, alegou ter recebido o “batismo do Espírito Santo” e começou a “falar em línguas estranhas”. Porém o fenômeno só ocorreu com notabilidade destacada no dia 09/04/1906, numa reunião dirigida por W. J. Seymour (ex-discípulo de Parham) na Rua Azusa, 312 - distrito industrial de Los Angeles, Califórnia -, em um pequeno galpão de tábuas (uma antiga igreja metodista abandonada). Seymour ensinou ali que a manifestação do “batismo no Espírito Santo” era falar “línguas estranhas”, provocando uma série de manifestações bizarras e demoníacas as quais ele revindicava serem oriundas do Espírito Santo de Deus. Ali estava o marco do início da crença de que uma pessoa precisava passar por duas etapas de salvação: a primeira a justificação através da entrega da vida a Jesus Cristo como Senhor (ser selado com o Espírito Santo) e a segunda através do “batismo no Espírito Santo” que seria marcado pela experiência mística da fala em línguas estranhas e outras manifestações bizarras.
Ali começava um grande movimento herético, de pregação de um outro evangelho que não o de Jesus Cristo, que se espalhou pelo mundo e que tem prejudicado grandemente a pregação do Evangelho autêntico, da salvação por um ato único de entrega de vida a Jesus Cristo como único Salvador, pois atribuiu valor salvífico também a um fenômeno que não encontra respaldo na Bíblia, que foi criado e desenvolvido por homens que desprezaram os ensinamentos bíblicos, e que depende de esforços humanos para serem supostamente alcançados. Uma crença herética, que leva igrejas à apostasia e que faz com que pessoas fiquem a buscar uma manifestação extática em suas vidas, culminando em um fenômeno de glossolalia, para terem a certeza de que foram “batizadas com o Espírito Santo” e assim possam sentir alguma tranqüilidade ou edificação espiritual, ou uma convicção falsa e enganosa de que foram salvas por Jesus Cristo a quem supostamente entregaram suas vidas.
(Extraído do Livro O Espírito Santo à Luz das Escrituras, de autoria do Pastor Dinelcir de Souza Lima, Editora Batista Brasileira, Rio de Janeiro, 2008, páginas 39-41)